SER TÃO FORRÓ
A HISTÓRIA DE UMA NOVA FORMA
RITMO NORDESTINO QUE CONQUISTOU O BRASIL
Conheça a história do forró, desde sua origem até os dias atuais
Gerliane Viana
O forró surgiu como uma festa que se popularizou no Nordeste do Brasil no século XIX, segundo os pesquisadores. Sua dança se caracteriza por marchas, polcas, choros, baiões, rojões, etc. Também é conhecida por ser uma festa popular na qual as pessoas não precisam se vestir a rigor. A indumentária é a comum do dia a dia, e o chapéu geralmente é de palha.
A origem do nome forró tem várias versões. Porém, as mais aceitas são duas; a que defende a origem da palavra do inglês “for all”, que significa 'para todos' no português; e a outra versão que diz ser a palavra um diminutivo de “forrobodó”, que tem definição de arrasta-pé, confusão e farra.
Após o lançamento do baião por Luiz Gonzaga, em meados dos anos 1940, o forró começa a ser definido como um gênero musical e incorporado pela indústria da música no Brasil. O baião foi fundamental para o forró, que se tornou internacional. Inspirou até um filme italiano, em 1951, estrelado por Silvana Mangano, intitulado “O Baião de Ana”, no qual ela cantava o baião “El Negro Zunbón”.
Com o êxito obtido por Luiz Gonzaga, outros artistas semearam o gênero ainda mais pelo país, defendendo a bandeira do Nordeste no mercado. Porém, no Sudeste do Brasil o preconceito era presente. “Em meados dos anos 1960 as pessoas do Sudeste descriminavam o forró, alegando ser uma música de classe inferior”, conta Luciano Almeida Filho, jornalista especializado em música.
Apesar da sua ascensão, o forró não é conhecido como parte de um movimento cultural. “Infelizmente, o Forró é considerado não existente para os chamados “críticos da MPB”. Ao contar a progressão da nossa música, eles falam nos primeiros ritmos, no choro, na marchinha, no samba e saltam para a jovem guarda e a bossa nova, deixando de citar dez anos em que o baião reinou soberano”, afirma Miguel Nirez Azevedo, jornalista e pesquisador.
A partir dos anos 1980 começaram a surgir outros estilos de forró com a pegada pop e formação de bandas padronizadas, perdendo um pouco de algumas características do gênero original. Esse novo ritmo viralizou com Emanuel Gurgel, da banda Mastruz com Leite. Logo outras bandas replicaram esse modelo com produções e músicas semelhantes.
Segundo Luciano Almeida, apesar do sucesso do forró no Nordeste, em outras regiões ele era muito sazonal, tendo evidência apenas em época junina. Um conceito que se modificou, pois nos dias atuais o forró é consumido em grande escala. Vale ressaltar também que, atualmente, com a indústria de produção em massa crescente, o conceito de bandas vem se desmistificando no forró e muitos cantores estão optando seguir por carreira solo, como Wesley Safadão, Solange Almeida, entre outros.
Independência das bandas
Nos últimos tempos, fãs foram pegos de surpresa com a notícia de separação daquele grupo ou daquela dupla favorita. Os rompimentos aconteceram nos mais diversos gêneros e com variadas justificativas. No entanto, todo artista sonha em ser dono da própria carreira e conduzir a sua agenda. Com o mercado crescente de música essa vertente se torna cada vez mais presente nos dias atuais.
Há quase 15 anos como vocalista da banda Aviões do Forró, Solange Almeida decidiu seguir carreira solo e Xand assumiu o grupo com novos integrantes. Juntos, os dois foram responsáveis por repaginar o gênero e fazer da música nordestina um dos destaques no Brasil todo. O motivo principal da saída da vocalista foi a chegada dos 30 anos de carreira musical, pois ela passou por outras bandas ao longo da sua trajetória. Atualmente, a cantora não mudou sua identidade musical, mas está exercitando outras vertentes.
O cantor Wesley Safadão, ex-vocalista da banda Garota Safada, também decidiu seguir carreira solo em 2015. Ele começou a atuar na música em 2003, liderando a banda, mas somente a partir de 2007 ganhou notoriedade na região Nordeste. E logo passou a ter projeção nacional, se apresentando em todas as regiões do Brasil. Após seu primeiro single solo "Camarote" ele passou a ter um dos cachês mais caros do país.
NA LINHA DO TEMPO DO FORRÓ
Conheça as fases do ritmo que transitou por vários estilos, mas sempre consagrando suas raízes
Lya Cardoso
1940. A poeira começou a subir, sinal que o forró iniciou. O chão batido do Nordeste foi o palco do surgimento de muitas bandas. Mastruz com Leite, Aviões do Forró, Limão com Mel, Magníficos e Solteiros do Forró. Grandes nomes desse estilo de música fizeram história pelo Brasil e pelo mundo. Ao longo das sete décadas, o forró se transformou, transitou e se consagrou nas mais diversas variações.
De acordo com pesquisas feitas pelo professor de Comunicação da Universidade Federal do Ceará (UFC), Robson Braga, que baseia seu estudo nas fases do forró eletrônico, o ritmo é constituído de três grandes etapas que se dão a partir de 1991. "No momento até pensaria em uma quarta fase, se é que nós já não a ultrapassamos".
A primeira fase do forró tem início por volta de 1991 e é denominada de forró romântico. Bandas como Mastruz com Leite, criadas por Emanuel Gurgel, dão início a esse movimento. “Nesse primeiro momento nós temos como referência a culta sertaneja, embora já tenha uma pegada diferenciada em relação ao forró tradicional ou chamado pé de serra”, comenta o professor. Nessa fase, há a inclusão de instrumentos como guitarra, baixo e bateria. Mas ainda se tem um grande apego à cultura regional e, de um modo mais especifico, à cultura sertaneja. “O clássico Meu Vaqueiro Meu Peão está aí como exemplo. Mesmo não fazendo referência direita ao sertão, traz algo da cultura popular”, afirma Robson.
Na segunda fase do forró, em 1995, a inclusão do ritmo gaúcho chamado Vanerão toma conta das bandas pela cidade. “Tinha um produtor na época que propôs uma aceleração do ritmo, dos BPMs (Batidas por Minutos) do forró”. Nessa época, a banda Brasas do Forró foi a percursora do ritmo e chegou a gravar com cantores do Rio Grande do Sul. “Esse ritmo específico vai ser apelidado de forroneirão, que é a junção de forró e vanerão”. A música símbolo dessa fase é Tão Pedindo Vanerão, que já existia, mas foi regravada em ritmo mais acelerado. De acordo com Robson, na segunda fase, o ritmo fica mais acelerado. “O forró fica um pouco mais agitado. Ele é bem diferente da batida do Mastruz com Leite”.
Nos anos 2000, quando a banda Aviões do Forró lança seu volume 3 e estoura no Ceará, Nordeste e no Brasil, tem início a terceira fase do forró. O pesquisador comenta que a migração nordestina contribui para esse momento.
O grande percursor dessa fase do forró foi o empresário Isaias CD, dono da A3 Entretenimento, que chegou com a ideia de definir um forró mais sofisticado. “Foi a tentativa da indústria do forró conseguir atrair um público de classe alta”, comenta Robson. Para o público A e B, o ritmo era considerado algo periférico e a partir do momento em que o mercado percebe isso, vai tentar atrair esse público para consumir seu produto. “Passa por um processo de sofisticação”.
As casas de forró entram em uma mudança de estrutura. Um exemplo é a conhecida Forró no Sítio, no Eusébio, que era considerada uma das mais sofisticadas casas de forró do estado.
A falta de estrutura dos locais limitava o público. Com a modernização, passou a ser menos segmentada e abranger mais pessoas. “A gente vai ter um piso que as mulheres possam dançar de salto alto, banheiros com ar condicionado, clubes decorados”.
A proposta de modernização do forró é vista como o ponto principal da terceira fase. A cantora Solange Almeida é um grande exemplo desse momento. Convidada a mudar completamente sua imagem, ela fez redução de estômago e tem sua figura repaginada.
Outro fator que atinge essa fase é o consumo de bebidas caras em festas e clubes de forró como Wisky e Vodka. Que, inclusive, pode ter sido um dos motivos para que, apesar do grande sucesso, as casas de forró tenham fechado ao longo do tempo.
A quarta fase do forró teve início recentemente, com um momento de transição da música. O forró mais sofisticado estava se aproximando do sertanejo. Em 2016 e 2017, os cantores fazem uma migração para o ritmo. Dois grandes exemplos são a dupla Simone e Simaria e o cantor Wesley Safadão.
Os locais de festa mudam e passam a ser a mistura de dois ritmos, forró mais sertanejo, virando um forrónejo. Um bom exemplo é a casa de show Faroeste, no bairro Coaçu. Em Fortaleza, é possível observar que essa fase ainda está muito presente. Casas de show voltadas para esse tipo de músicas são comuns, além da migração de cantores para o sul do país com o intuito de difundir e atrair para vez mais público.
Fases do forró eletrônico
PRINCIPAIS INSTRUMENTOS DO FORRÓ
A base do som do estilo pé de serra é feita pela sanfona, triangulo e zabumba
Victoria Martha
O forró conhecido como pé de serra faz parte da fase tradicional do ritmo. Esta fase foi a primeira que surgiu e ficou muito popular no interior do estado do Ceará. É composta por três instrumentos: sanfona, triângulo e zabumba. A vertente mais atual utiliza também guitarra, violão e o teclado.
Cada instrumento tem a sua história e funcionalidade para o ritmo se concretizar. A sanfona é um instrumento caracterizado como aerófono, pois o som é produzido pela vibração do ar. Foi produzida pela primeira vez na Alemanha, em 1822, mas sua presença no Brasil só foi registrada nos anos de 1837 e 1851, quando foi trazida pelos imigrantes italianos e alemães. Era chamada de concertina e muito usada para animar festas no interior das regiões Nordeste, Sul e Centro-Oeste.
O músico Valdecir da Costa, 66, mora em Fortaleza, mas nasceu no município de Choró. Ele diz que toca sanfona há 58 anos e seu primeiro contato com o instrumento foi aos oito, quando seu pai lhe deu de presente. Valdecir fala que aprendeu a tocar sanfona somente ouvindo outras pessoas tocarem e que já viajou para Manaus, Juazeiro do Norte, dentre outros locais, para animar festas ao som de sua sanfona. Atualmente ele toca todo sábado no restaurante Raimundo dos queijos, localizado no centro de Fortaleza.
Outro instrumento bem comum no forró é o triângulo, feito de ferro, aço ou alumínio, em formato triangular e que tem um bastão do mesmo material. O som é produzido por vibração, quando se bate o bastão na superfície de ferro do triangulo. De acordo com a sustentação da mão ao bater com a baqueta no triângulo, o som emitido pode ser aberto ou fechado. Seus primeiros registros datam do século 10, quando era usado em cerimônias nas igrejas europeias, e logo depois se tornou conhecido por ser utilizado em orquestras.
A zabumba é um tipo de tambor grande e de som grave e abafado, que se torna muito imponente quando usado no forró. Ela possui um formato cilíndrico, é feita de madeira e seu tambor revestido de pele de couro. Para tocar o instrumento usa-se uma baqueta na parte superior do tambor e na parte inferior usa-se uma vareta, chamada de resposta ou bacalhau. É mais popular no estado de Pernambuco, que abriga grande mestres da zabumba, como, Macário Ganhador, Negro Vicente, Mestre Gato, dentre outros. Ouça abaixo uma entrevista com um músico de zabumba:
A sanfona de 80 baixos está no mercado em torno de R$ 4.199. A de 120 baixos por volta de R$ 4.900. O triângulo pode ser encontrado em média, por R$ 60,00 reais e a zabumba em torno de R$399,00. O valor de cada instrumento varia por volta de 10 a 15 por cento de loja para loja.
A TRINDADE DO FORRÓ
ilustração: Valdir Muniz
Lya Cardoso
Poucos quilômetros separavam Gonzagão, “Maria-Bonita do Forró” e Dominguinhos. O trio, natural de Pernambuco, desbravou o Nordeste para o Brasil e eternizou canções na memória de qualquer um que se propusesse a ouvir. Tênues eram os caminhos que impediam a tríade de trilhar carreira, difundindo a cultura nordestina nos versos arranjados pela sanfona, a zabumba e o acordeon. Dentre os três, cada um, de maneira particular, marcou a história do forró e da música nacional.
Tragam um trono para o Rei do Baião
Nas quase cinco décadas de carreira, o cantor e compositor nordestino imortalizou hits como “Asa Branca”, “Baião” e “Cheiro da Carolina”
No dedilhar da sanfona, quase todo nordestino já foi quadrilheiro e arrumou um par para dançar “alavantú e anarriê”. Muito do apelo pela dança se deve ao Rei do Baião. Quando abandonou o Exército, no ano de 1939, Luiz Gonzaga do Nascimento, a quem coube o título de majestade, não era capaz de imaginar que ingressaria na música para se tornar imortal.
Eternizado no sertão das quadrilhas, o sanfoneiro fez o Brasil enxergar a musicalidade pulsante do Nordeste. Gonzaga encantou o País com o voo da asa branca e fez o povo embarcar na história do vaqueiro que anseia pela fartura da chuva. “A importância da figura de Gonzaga vai muito além de leitura musical ou rítmica, pois designa a identidade de um povo, de um lugar e de uma cultura, seja ela formal ou informal, rebuscada ou customizada”, define Rogério Gomes, produtor cultural e diretor de quadrinha junina.
Caboclo nascido em Exu, município do interior de Pernambuco, popularizou o forró, o xaxado e o baião, levando na mala instrumentos tipicamente nordestinos. A sanfona debaixo do braço era o xodó. Além de exaltar o Nordeste de maneira contagiante, Luiz Gonzaga, como ficou conhecido posteriormente, cantava os infortúnios de gente humilde, com gosto regional.
Nascido em 1912, o artista morreu aos 76 anos, acometido por uma parada cardiorrespiratória, na capital pernambucana, em Recife. Pernambuco foi um dos lugares escolhidos por Luiz para erguer um dos espaços culturais pelo Brasil que recontam um pouco de sua trajetória.
O mais famoso deles, situado na cidade de Exu, Parque Aza Branca, vem sendo prejudicado pela falta de investimentos para conservação e manutenção, apesar de ter sido tombado, em 2009, como Patrimônio Histórico e Cultural de Pernambuco.
A rica história do nordestino não ficou somente dentro dos museus. Luiz Gonzaga ganhou filme. Lançado em 2012, “Gonzaga: De Pai Pra Filho”, passeia pela vida do artista, desde o início, em Exu, até os tempos de glória. Além de explorar a relação conturbada com o filho adotivo, Gonzaguinha que, apesar de também ter seguido na música, fez carreira cantando outros ritmos. Na linhagem sanguínea, Luiz Gonzaga teve apenas um filho, mas de coração e emoção, quase todo nordestino já sentiu acalento do Rei do Baião.
O xaxado tem dona
Cantando “Pisa na Fulô” e “Peba na Pimenta”, lançadas em 1957, Marinês foi responsável por abrir caminhos para as mulheres no forró
O ano é 2018. Pessoas ainda tratam com normalidade o fato de mulheres ganharem salários inferiores aos de homens, ocupando os mesmos cargos. Imagine então como era em meados de 1950, quando Inês Caetano de Oliveira, conhecida popularmente como Marinês, resolveu se aventurar pelos palcos, cantando forró, xaxado e baião. Ali começava a desconstrução de padrões.
Em um cenário onde os ritmos nordestinos eram predominantemente interpretados por vozes masculinas, a pernambucana levou delicadeza, graça e talento ao gênero. Marinês iniciou carreira trajando roupas e chapéu de couro, integrando o trio Patrulha de Choque do Rei do Baião. Abdias, o marido, acompanhava no acordeon. No repertório, cantava Luiz Gonzaga do início ao fim, nas andanças pelas cidades no interior do sertão. Com as apresentações, ficou conhecida como “Maria-Bonita do Forró”.
Anos mais tarde foi apadrinhada por Luiz Gonzaga. O ídolo a levou para o Rio de Janeiro, onde inaugurou o grupo Marinês e sua Gente, para que abrisse seus shows pelo País. Foi capitaneando a nova formação que a artista se consagrou, com a música “Peba na Pimenta”. Logo na estreia conseguiu ser a primeira a emplacar quatro músicas de um mesmo álbum nas rádios, entre elas, o sucesso “Pisa na Fulô” (1957). Depois do reconhecimento artístico, assumiu o posto de Rainha, ao lado do Rei do Baião.
Não bastasse quebrar tabus por ser figura feminina no forró, ia além, cantando músicas de duplo sentido e emprestando sua voz a letras de sucesso. A canção “Bate coração” (1999), por exemplo, é uma das relíquias do forró tradicional. “Eu achava ela muito diferente das mulheres que conhecia, via as outras muito preocupadas com unhas, cabelo e vestidos. Enquanto Marinês estava agendando os shows, cantando, resolvendo burocracias e até tocando obras de construção lá em casa”, relembra Marcos Farias, filho da artista, que apesar de ser uma criança na época, ainda incapaz de entender todo o empoderamento na figura de Marinês, já notava na mãe um posicionamento diferente.
Com sorriso nítido projetado na voz, Marcos relembra, aos 61 anos, os momentos vividos com a mãe. Desde muito novo, ainda aos sete anos, já subia aos palcos para tocar acordeon, apesar de ter preferido enveredar pelos bastidores, atuando como produtor. Dentre as muitas canções interpretadas pela mãe, ele confessa que é difícil escolher uma favorita, mas que vira e mexe, se apega a uma em especial. “Meu Cariri” (1976) é a mais pungente no momento. “Eu fico muito orgulhoso de saber que estou aqui para repassar essa história exatamente como aconteceu, e também por saber que ela influenciou uma geração muito grande na época, não só no palco, como na postura enquanto mulher”, completa.
O último álbum da cantora foi lançado em 2006, “Marinês canta a Paraíba”. No total, deixou legado de mais 30 álbuns, entre LPs e discos gravados, servindo de inspiração para as mulheres que decidiram adentrar no forró até os dias de hoje.
Marinês faleceu em 2007, aos 71 anos, enquanto se recuperava de um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Após o falecimento, ganhou um Tributo, que acontece anualmente em Campina Grande, na Paraíba, reunindo artistas locais para revisitar a extensa obra fonográfica. Em 2017, uma década após a morte da mãe, Marcos saiu em turnê com a esposa, Sabrina Vaz, ecoando para novos e antigos públicos a voz de Marinês, como tem que ser.
Dominguinhos e a música que transborda
O amor pelo que fazia era o segredo de sua carreira
Os olhos do Rei do Baião batizaram sua carreira quando aos 7 anos ele esperava Luiz Gonzaga na porta de seu hotel na cidade de Garanhuns, em Pernambuco. José Domingos nasceu predestinado a ser um dos mestres do forró. Filho de Chicão, um dos mais conhecidos acordeonistas de Pernambuco, seu contato veio ainda no ventre de sua mãe, Dona Maria, em 1941.
Aos seis anos, Dominguinhos aprendeu a tocar o instrumento que o acompanharia pelos seus 72 anos de vida, a sanfona. Os diferentes estilos em que Dominguinhos transitou por meio de parcerias com grandes nomes da música, como Elba Ramalho, Chico Buarque e Gilberto Gil não o fizeram perder suas raízes nordestinas.
Ainda na infância, Domingos formou uma banda com seus irmãos. Seu instrumento era o pandeiro, bem diferente de sua marca registrada alguns anos depois, que seria a sanfona. O trio se apresentava em feiras livres, portas de hotéis e bares por Pernambuco.
De família grande, o cantor e seus parentes decidiram sair do agreste de Pernambuco para tentar a vida na cidade grande. Rio de Janeiro, 1954. O tempo passou e o chamado Neném do Acordeon virou Dominguinhos. Luiz Gonzaga sempre acompanhou sua carreira de perto, ensinou e virou padrinho do cantor.
As músicas do cantor falam por si só. É impossível alguém não conhecer um dos maiores clássicos de sua carreira: “Eu só quero um xodó”, um hino atemporal que encanta a todos. Outras grandes músicas que fizeram sucesso na voz do cantor são “Lamento sertanejo”, “Xote das Meninas” e “Isso aqui tá bom demais”.
O rosto que sorri com os olhos, os trajes típicos e a sanfona são suas marcas principais, e, talvez, características que tenham marcado e feito que virasse Príncipe do Forró. O músico Adelson Viana conviveu com Dominguinhos durante um período de sua vida. “A primeira vez que ouvi sua música, fiquei encantado. Ele era uma figura humana maravilhosa. Do tamanho que era seu talento era a sua generosidade, simplicidade e humildade”.
Adelson produziu junto com o cantor seu último cd gravado, que foi em Fortaleza. “Nós tivemos uma relação de amizade, cheguei a tocar em muitos shows com ele”. O cantor deixou uma legião de fãs de seu estilo musical. “Todos nós somos seguidores. Ele foi um divisor de água. Depois de Dominguinhos, a sanfona ganhou uma nova versão”.
Pessoa simples e prestativa, o Príncipe do forro fazia questão de ajudar músicos iniciantes. “Principalmente os amigos que precisavam de uma visibilidade. Gravava no cd trabalhos daqueles que estavam começando e isso era muito bonito e nobre”.
A passagem de Dominguinhos pela terra foi breve, mas muito bem apresentada. Em 2012 foi internado com arritmia cardíaca e infecção respiratória. Alguns meses depois da internação, morreu como um dos maiores sanfoneiros do Brasil.
Mas, a luta do cantor não foi somente pela vida. Mesmo em seu estado debilitado, ele sabia as pessoas que estavam ao seu redor. “Ele dizia que era repentista de sanfona, era capaz de fazer uma música na hora sem precisar de muita coisa”, diz Adelson.
A partida de Dominguinhos abalou muitos corações. “Eu penso no Dominguinhos todos os dias, porque ele está presente em tudo que faço, tudo inspira”. Adelson teve o privilégio de ganhar uma sanfona de presente do cantor. “Um dos dias que mais me marcou”, encerra. Seu coração era enorme e segue até hoje espalhando amor através de suas músicas.
Danielber Noronha
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ENTREVISTA COM Sabrina vaz
ENTREVISTA COM ADELSON VIANA
&
adelson viana
dominguinhos
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PARA ALÇAR VOOS LONGOS, UMA INOVAÇÃO
O FORRÓ É UMA DAS INDÚSTRIAS QUE MAIS SE DESTACA NA MÚSICA NORDESTINA. E TRAZER UMA NOVIDADE FOI O PRINCIPAL DIFERENCIAL EMPRESARIAL PARA O RITMO
O FORRÓ É UMA DAS INDÚSTRIAS QUE MAIS SE DESTACA NA MÚSICA NORDESTINA. E TRAZER UMA NOVIDADE FOI O PRINCIPAL DIFERENCIAL EMPRESARIAL PARA O RITMO
“Música é um produto que você tem em uma prateleira, igual você tem um alimento”. O empresário Emanuel Gurgel, 65, viu no forró, nos anos 90, uma maneira de começar uma grande indústria fonográfica. Na época, o ritmo era restrito e sofria muito preconceito. O caminho nada convencional que escolheu diante do mercado, o fez ser um dos nomes mais importantes da história do forró eletrônico, do qual é considerado o pai.
Um de seus grandes feitos foi a banda Mastruz com Leite. Ela está há 28 anos no mercado e ultrapassou gerações, saindo de discos de vinis e conseguindo se consagrar nos streamings.
Segundo Emanuel Gurgel, a precariedade de compositores no início era uma das grandes dificuldades. “As
pessoas tinham vergonha de produzir músicas de forró”. A partir daí, tem o início da chamada primeira fase do forró, em 1991. “A gente pegava músicas nacionais e colocava em ritmo de forró, fazia um xote”. Mas, com o passar do tempo, grandes nomes foram surgindo para integrar o time de compositores de forró: Rita de Cássia, Ferreira Filho e Accioly Neto”.
Em Fortaleza, ainda pequena musicalmente, não existiam estúdios de grandes proporções. “Só tinha um
estúdio, o Pró Áudio, e só com 12 canais”. Já com a Mastruz com Leite fazendo shows, Emanuel viu que era hora de inovar e gravar o primeiro disco de uma banda de forró na cidade.
O empresário resolveu ter um diferencial e colocar vinhetas nas músicas gravadas. “É o forró Mastruz com
Leite”. Segundo ele, ninguém assinava nenhuma música. “Todas as pessoas que assinam hoje, quem tá cantando, é cópia”.
A banda alcançou sucesso nacional. Eles chegaram a possuir 8,4% da produção de CD’s no Brasil e as
vinhetas foram o grande diferencial. “Para conseguir fazer o negócio girar montamos a editora, gravadora, rádio e produtora. No universo musical, só tem um produto que faz isso tudo, chama-se Mastruz com Leite”, afirma Emanuel.
“Quando entrei no forró, já tinha uma empresa com 100 funcionários, meu negócio era confecção. Eu não tinha nada a ver com o forró, apenas gostava de dançar e por isso tem mais de 100 mil pessoas empregadas no Nordeste trabalhando com o ritmo”.
Confira entrevista completa com Emanuel Gurgel:
FORRÓ E SEU FATOR TURÍSTICO EM FORTALEZA
Ritmo movimenta economia da capital cearense e atrai visitantes
Eduardo Almeida
Fortaleza é, economicamente, a 5ª maior cidade brasileira e um dos destinos turísticos mais procurados entre as capitais do Brasil. Aliado às belezas naturais e ao povo receptivo e caloroso, o ritmo forró é um dos pontos que despertam interesse quando se visita Fortaleza. Algumas casas de eventos da cidade trabalham de forma consistente a manutenção e divulgação desse ritmo originário do Nordeste, para que se mantenha a tradição.
O trabalho de divulgação do forró raiz , aquele que é considerado o mais tradicional, tem sido objeto de preocupação constante de um dos bares mais procurados pelo turista que quer dançar este ritmo: o Pirata Bar, na Praia de Iracema. Há anos o lugar vem se destacando como a segunda-feira mais animada do mundo, segundo o jornal americano The New York Times.
Nesse sentido, Eugênia Trindade, cantora e uma das proprietárias da casa de eventos junto com sua equipe procura valorizar os detalhes, seja no ambiente rústico, que remete à simplicidade do interior cearense, sejam pelas famosas comidas regionais, ou mesmo o som das bandas locais que embalam as noites de diversão de quem visita a capital.
Além do conteúdo de entretenimento, para quem trabalha com o forró há uma questão social de integração. Esta é a opinião do professor de dança do Pirata Bar, Elder de Sousa, 41 anos (veja link para o áudio da entrevista com ele), que destacou ainda diversos outros pontos que o forró lhe proporcionou.
O forró, segundo Eugênia Trindade, serve para “criar laços com as pessoas”. Por isso, mesmo com todo o problema de urbanização da área do calçadão da orla, foi uma questão de pertencimento do local que os fizeram decidir se manter no mesmo lugar. Para a empresária, “o Pirata é a casa de todo mundo”. Estar todo dia no mesmo lugar, com festas em datas fixas, faz com que exista uma proximidade com as pessoas que vão, sejam turistas ou pessoas da cidade.
Uma das missões de Eugênia Trindade é levantar a cultura raíz da cidade, que ela acredita ser mal valorizada pelo fortalezense. A empresária pontua que se o Pirata Bar fosse em capitais como Recife ou Salvador, que conseguem trabalhar e manter a cultura local com mais engajamento que o fortalezense, com certeza a casa de eventos seria maior em tamanho e relevância nacional.
Todo o trabalho para manter o forró vivo é válido. Culturalmente rico e um importante fator de identidade regional que mostra a força do nordestino, o forró vai além de um ritmo musical. Faz parte da cultura nordestina e já irradiou para além da região. É conhecido no Brasil e no mundo.
serviço:
Nos bastidores do
Ceará Caboclo
Do repente ao folclore, da embolada ao forró: há quase 30 anos animando as manhãs de domingo, o programa da TV Ceará exalta a cultura cearense.
Apresentado pelo músico, jornalista e cordelista Dilson Pinheiro, o programa conta com diversas propostas culturais, dando oportunidade a novos artistas locais e valorizando aqueles que já estão na estrada há mais tempo.
Apresentador há 20 anos do programa, Dilson fala da sua paixão pela cultura popular do Ceará e sua trajetória até sua atual posição no Ceará Caboclo, originalmente protagonizado por Carneiro Portela.
Onde encontrar a TVC:
• VHF: canal 5.1
• Multiplay: canal 517
• NET: canal 17
• Vivo: canal 5
• Brisanet: canal 15
entrevista com Dilson Pinheiro
Tendo origem na região Nordeste e Luiz Gonzaga como seu maior representante, o forró é um gênero que mistura música, dança, estilos e cultura. Foram as festividades juninas o seu maior palco e as migrações o motivo dele se espalhar rapidamente. Atualmente, pode ser encontrado em todas as regiões do Brasil em casas de forró, bares ou festas, além de conseguir agradar diferentes públicos.
Este estilo musical enfrentou grandes transformações e incorporou novos elementos da modernidade, como variações de ritmo e de instrumentos. Surgiram então, as versões eletrônicas e o universitário. A vendedora Gabriela Oliveira, 29 anos, é nordestina e aposta no forró, sempre nos finais de semana. "É um momento de lazer e descontração. Sem contar que a dança é muito boa; traz leveza para o corpo e a mente," salientou.
Morando em Pernambuco, ela participa de eventos em Caruaru, cidade que mais abriga histórias tradicionais do forró. “É bonito ver como temos uma diversidade tão grande. Preservamos o pé de serra, mas não descartamos as novidades que surgem. Eu amo o sertanejo,” afirmou. Do Nordeste ao Sudeste do país, encontram-se diferentes pontos de forró que em suas músicas agregam romantismo, brega e axé.
O gênero também ganhou o coração da cabeleireira Micaela Oliveira. Com 24 anos e mesmo não sendo do Nordeste, a jovem se diverte visitando a Casa de Forró de Piratininga, em São Paulo. “Sempre vai muita gente. Há noites que têm 200 pessoas. Gosto dessa casa porque vão muitos idosos e a energia deles me contagia. Já frequentei outros lugares, mas acho essa aqui o melhor,” enfatizou.
Ela ainda ressalta o prazer de ouvir as músicas com letras regionais e saudosistas. “Falam de amor. São como poemas, contam histórias, são saudáveis. Isso também me motiva a frequentar o local, sei que vou sair melhor de lá. Vou acompanhada do meu esposo. Tem ocasiões que levo a família toda... sogra, sogro e ainda convido os amigos” explicou.
A esteticista e cosmetóloga de 21 anos, Daniela Martins vivencia uma sensação de nostalgia com o forró. Morando em Goiânia (GO) e longe da família, que reside em Tocantins, ela relembra momentos da infância com o ritmo. “Vim para cá com o objetivo de estudar e trabalhar. Não tenho parentes aqui. Então a presença do forró na minha vida traz um gostinho de saudade de casa, lembro da família, do natal, dos primos... minha família ouvia muito forró quando se reunia,” pontuou.
Mundialmente, o Brasil é conhecido pela sua diversidade de culturas existentes. Suas regiões Norte, Nordeste, Centro Oeste, Sul e Sudeste, representam essas diferenças que, apesar de serem berços de outros ritmos musicais, são perpassadas pelo forró como uma alternativa de divertimento, socialização e bem-estar.
FORRÓ PARA ALÉM DA DANÇA
O ritmo musical como forma de interação social, atividade física, terapia e até superação de preconceito
Carlos Cleber
Por que uma pessoa procura fazer aulas de dança de forró? Talvez a resposta mais lógica e imediata para essa pergunta seja: “Para aprender a dançar forró”, não é mesmo? Porém, para além da suposta obviedade, a procura por cursos de forró pode trazer, em suas histórias, motivos diversos e até relatos surpreendentes.
“Me sentir bem, socializar e fazer amizades.” É dessa forma que o funcionário público Leydson de Carvalho, 36, descreve os seus objetivos com as aulas de forró que cursa na Escola de Dança Alex Amorim. Quem compartilha também desse interesse é o porteiro Francisco José, 46, que busca o mesmo curso para “sair e conhecer novas pessoas.”
“As pessoas encontram, no forró, uma possibilidade de projeção futura. Uma possibilidade de reaprender, de reencontrar amigos, de refazer amigos, de encontrar amores e casamentos. Vários casamentos já se deram a partir do encontro das turmas de forró”, afirma Alex Amorim, 40, professor da escola de dança que leva seu nome.
Há também aquelas pessoas que frequentam os cursos de forró para “aliviar os estresses do dia a dia, do trabalho e ter mais disposição”, como a operadora de telemarketing Erbênia Carvalho, 33. “Dançar forró é libertador! Eu já vi testemunhos de alunos aqui que superaram até seus vícios em bebidas, jogos e sexo, com a ajuda do forró”, completou Alex Amorim.
Para o analista de sistemas Antônio Wilton, 35, a ideia de dançar forró surgiu por uma questão de saúde física. Seguindo recomendações médicas, o analista buscou a Escola de Dança Ronnie Von Marques para trabalhar seu corpo. “O médico disse que eu poderia ter um ataque cardíaco (sendo sedentário). Eu procurei academia (musculação) e dança. Academia eu não gostei muito. Mas quando entrei na dança, no primeiro dia já me apaixonei”, disse Antônio.
Quem procurou as aulas de forró na Ronnie Von Marques, também por uma questão clínica, foi a estudante universitária Jackeline Auzier, 26, que descobriu uma terapia alternativa na dança. “Me recomendaram fazer psicoterapia. Vim um dia aqui na escola fazer uma aula experimental. Gostei e o forró me serviu como uma terapia. Agora, (o forró) já me serve também para socializar, melhorar a coordenação motora e me expressar melhor corporalmente”, relatou Jackeline.
Já para o lutador profissional de MMA Gadelha Júnior, 33, companheiro de turma de Antônio Wilton e Jackeline, dançar forró serviu para quebrar seus próprios preconceitos e melhorar seus relacionamentos. “Eu odiava forró. Achava que não tinha jeito, que eu nunca iria conseguir o molejo para conhecer mulheres e ter essa vida de saídas. Com as aulas, descobri o que era o forró. Descobri que eu era ignorante. Vi a cultura fantástica que é o forró”, detalhou Gadelha Junior.
Tanto na Escola de Dança Alex Amorim como na Ronnie Von Marques, o público pode encontrar aulas de baião, forró de gafieira, forró eletrônico, sendo este o mais procurado pelos alunos, entre outras modalidades do ritmo musical.
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DANÇA COMO UMA FORMA DE LONGEVIDADE
A base do som do estilo pé de serra é feita pela sanfona, triangulo e zabumba
Eduardo Almeida
Em Fortaleza, no bairro Moura Brasil, área central da capital cearense, o Clube Santa Cruz há 70 anos oferece, aos domingos, as opções de forró pé de serra e samba de gafieira para os frequentadores, a maioria deles acima de 60 anos. O espaço segue o mesmo estilo de outros clubes que já foram tradicionais em Fortaleza, como Náutico e Varandão.
Em uma noite de festa, às 19h30 já se vê uma grande concentração de pessoas, a maioria acima de 60 anos. Ao ritmo de forró das antigas, a dança era embalada por casais com movimentos mais lentos, o que não significa que os passos sejam menos ritmados. Eles representam uma parcela da população que se recusa a ficar parada.
No salão, enquanto a banda toca uma música atrás da outra, mais casais se formam no centro do palco. Já nas extremidades, nas mesas, geralmente ocupadas, outras tantas pessoas observam o movimento em busca de uma oportunidade ou de alguém que lhes interesse para dançar. Esse movimento acontece constantemente, quase como um ritual de dança que excede o que acontece no centro do salão.
As vestimentas são um show à parte. As mulheres sempre muito bem produzidas, com unhas e cabelos de quem veio do salão de beleza. Já os homens parecem que aderiram de vez à moda do cordão de ouro ou prata no pescoço, camisa aberta até o meio do tórax, calças bem alinhadas e sapatos com muito brilho, na maioria das vezes. A perda do companheiro (a), dos amigos, dos filhos que cresceram ou saíram de casa para viverem a própria vida, a orientação dos médicos para realização de qualquer atividade física, entre outros, foram os principais motivos que os idosos citaram para buscar na dança uma válvula de escape.
No meio do salão estava Dona Francisca Brito, 47 anos, moradora do bairro Alwaro Weyne, casada há 30 anos. Sempre gostou de forró - gafieira não gosta muito, ouve por que o marido gosta. Ela só se sentiu à vontade para ir a um clube com o marido depois que os filhos todos cresceram. “É difícil sair pra animar com o marido quando se tem 4 crianças pequenas em casa, a diversão do casal fica em segundo plano”, disse a dona de casa, que frequenta o clube há 6 anos. “Aqui é muito tranquilo e de família”, diz ela.
Enquanto dona Francisca dava entrevista, toca uma música da banda “Limão com Mel”. Educadamente ela pede licença, diz que volta já pra conversar e puxa o marido tímido pra dançar. Na volta da dança reclama baixinho para o marido não ouvir: “Ele não dança muito. Mas eu amo ele mesmo assim. Você viu os ‘zoião’ azul dele?”, depois da declaração, apenas ri.
Depois do bingo de R$ 100,00, quase finalizando as atividades de dança do domingo, a reportagem pede para tirar uma foto do casal. Ela aceita, ele não. Com isso, ela retoca o batom bem vermelho, pergunta se fica melhor de óculos ou sem. Depois de alguns cliques, ela aproveita para perguntar em quem eu irei votar no 2º turno para presidente do Brasil. Resposta: naquele que soubesse dançar melhor. Ela disse: Entendi! E assim, nos despedimos.
Todo esse cenário onde os idosos são protagonistas de suas vidas e decisão é um reflexo do envelhecimento da população brasileira. O último censo, divulgado em 2017, pelo Instituto brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que a população do Ceará, acima de 60 anos, ultrapassou o número de 1.230.000 habitantes. Isso representa 13,75% da população do estado. Com o crescimento acentuado dessa faixa etária da população, se tornaram mais frequentes as atividades que incentivam o movimento e a interação entre idosos. E a dança é uma delas.
HISTÓRIAS DO FORRÓ
VLOG
PARA ALÉM DO FORRÓ
O popular gênero musical nordestino amplamente revisitado
Guilherme Magalhães
O forró, ao longo das décadas, sofreu diversas influências regionais e temporais. Em oposição ao forró tradicional, também conhecido como “pé de serra”, nasceu o forró “moderno” ou “eletrônico”, que registra uma maior variedade de instrumentos musicais, e o “universitário”, em meados dos anos 90. Com a popularização do gênero nas capitais surgiram bandas como o Falamansa, em São Paulo.
Em um mundo globalizado, a comunicação instantânea da internet permitiu a audiência de novos públicos, fez surgir demandas e possibilitou a troca cultural em larga escala. O forró moderno possui outras referências e influências, além do forró tradicional. Assim, uma onda de experiências acontece: instrumentos nunca antes utilizados e técnicas são somados ao repertório, construindo diferentes forrós “alternativos”.
Cantar forró em outros idiomas? Guitarras elétricas distorcidas? Tudo isso hoje é possível, mas inimaginável há algumas décadas. Partindo do ponto inicial do forró e do imaginário nordestino, centenas de possibilidades foram surgindo desde o começo do século XXI, por meio de pequenas interpretações até à construção de sonoridades totalmente originais. A seguir, vamos tratar de alguns exemplos de bandas que pensaram o forró de uma maneira diferente, ou beberam da sua fonte para incrementar os seus próprios estilos musicais.